Nova Estação Antártica Comandante Ferraz

EACF 2019

 

Depois do incêndio ocorrido em 2012, que destruiu 70% da Estação Antártica Brasileira, iniciou-se um processo de contratação do projeto para as novas instalações brasileiras na Antártica. Através da elaboração de um minucioso Termo de Referência, que visava à realização de um concurso de arquitetura, conduzido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em conjunto com a Marinha, cujo conteúdo buscava como enfoque, além das informações técnicas necessárias aos projetistas, o posicionamento do Brasil frente ao novo desafio que se apresentava: construir uma Estação Científica que atendesse aos anseios da comunidade científica e que servisse como referência para futuras edificações na Antártica. Destaca-se que mais de 100 projetos de diversos escritórios de arquitetura brasileiros participaram do concurso.

O “Estudio 41”, sediado em Curitiba – PR, teve seu projeto vencedor e planejou as novas instalações da EACF com uma área construída de aproximadamente 4.500 m² (a anterior contava com 2.500 m²), dividida em seis setores distintos: privativo, social, serviços, operação/manutenção, laboratórios e módulos isolados. Destaca-se no projeto arquitetônico a área de laboratórios conformando 14 unidades, projetadas para atenderem a uma multiplicidade de exigências, denotando a prioridade do PROANTAR para as atividades científicas.

 

 

Imagens do Projeto Vencedor

 

O processo de construção foi desenvolvido a partir dos estudos realizados em outras edificações antárticas, considerando os condicionantes da Península Keller e da logística do PROANTAR. Assim, a estratégia foi buscar a máxima repetição dos componentes construtivos visando à racionalização dos processos de fabricação e, consequentemente, à redução dos custos e do tempo para a montagem final na Península Keller, bem como para as atividades posteriores de manutenção.

Ressalta-se que o desenvolvimento de pesquisas de cunho tecnológico junto ao PROANTAR, desde 1987, embora nem sempre continuado, foi um fator de grande importância para a definição dos parâmetros a serem adotados para as instalações da Nova EACF. O monitoramento contínuo das melhorias instaladas na Estação, ao longo do tempo, permitiu ao Brasil a identificação prévia de soluções adequadas, tanto em relação aos condicionantes técnicos como à realidade econômica e cultural brasileira.

 

Observa-se que a experiência brasileira permitiu enfatizar as condições de conforto (térmico, lumínico, acústico e psicológico) sendo, inclusive, realizados estudos empregando softwares e simuladores como ferramenta auxiliar nas decisões projetuais e na verificação da eficiência do projeto. Nesse mesmo contexto, as técnicas adotadas para a gestão de água e esgoto foram estabelecidas a partir de estudos e experimentos anteriores realizados na EACF, sendo proposto um sistema de reaproveitamento de águas servidas (cinzas) e o tratamento dos efluentes finais por meio da técnica com radiação UV.

Já com relação à energia, ressalta-se que o emprego do óleo diesel continuou sendo ainda um dos principais insumos energéticos para o funcionamento da EACF, impulsionando um conjunto de motogeradores elétricos capaz de suprir adequadamente a demanda de consumo da Estação. Contudo, esse sistema estará associado com outros sistemas complementares que fazem a cogeração (aproveitamento do calor gerado nos motores dos geradores e outras máquinas elétricas), à obtenção de energia de outras fontes renováveis, com o emprego de sistemas fotovoltaico e eólico, gerenciados através de uma Smart Grid, que garante eficiência e segurança para a operação do sistema energético da Estação. A instalação gradual dos sistemas alternativos de produção de energia proporciona economia relevante no emprego do óleo diesel com a consequente redução na pegada de carbono da Estação.

Em 2013, a SECIRM, com o apoio técnico das Diretorias Especializadas da MB, iniciou o processo para a contratação do projeto de reconstrução da EACF. Após a conclusão do projeto executivo, foi iniciado o processo licitatório internacional para a contratação de empresa para a execução da obra. Em 31 de agosto de 2015, foi assinado o contrato com a empresa estatal chinesa China Electronics Import and Export Corporation (CEIEC), vencedora do certame. As atividades iniciais para a obra começaram neste mesmo ano.

 

Início das obras da Reconstrução - 2016

 

A edificação principal da nova estação antártica é composta por três blocos:

  • O Bloco Leste é destinado às pesquisas, convívio e serviços da EACF. Nele estão os 14 laboratórios, refeitórios, cozinha, setor de saúde, sala de secagem e oficinas;
  • O Bloco Oeste é o lugar privativo, onde foram instalados, no nível superior, os 32 camarotes, biblioteca, academia e sala de vídeo/auditório e, no nível inferior, paióis de mantimentos e tanques de aguada e de combate a incêndio; e
  • O Bloco Técnico conta com a garagem e a praça de máquinas da estação, onde estão localizados os geradores, quadros elétricos, caldeiras, estação de tratamento de água e esgoto, incinerador, entre outros.

A obra foi planejada para ser executada em quatro fases distintas e consecutivas, sendo duas de fabricação e pré-montagem na China e duas de montagem na Antártica.

A primeira fase foi concluída conforme planejado e, para a execução da fase seguinte, foram montados, em dezembro de 2016, no canteiro de obras na antártica, um alojamento para 72 pessoas e uma plataforma com guindaste, que proporcionou agilidade ao desembarque de material a partir do navio fretado pela empresa contratada.

Em seguida, foi realizada a montagem dos blocos de concreto pré-moldados que constituem as fundações da edificação principal, a qual obedeceu à seguinte sequência: escavação, preparação e regularização do leito, instalação da chapa base, montagem das peças de concreto e da cruzeta e reaterro. Essa fase foi concluída em março de 2017, ao término do verão antártico.

A terceira fase, realizada em Xangai, consistiu na fabricação e pré-montagem dos pilares, estruturas e contêineres que constituem os Blocos Leste, Oeste e Técnico, além dos Módulos Isolados. Essa fase foi concluída em novembro de 2017, após a desmontagem, catalogação e embarque dos diversos itens no navio, fretado pela contratada, com destino à Antártica.

A quarta fase foi executada em duas etapas:

A primeira etapa ocorreu de 25 de dezembro de 2017 a 31 de março de 2018, quando foram concluídas as montagens de 2/3 do bloco oeste, pilares e estrutura inferior do bloco leste, parcial da estrutura do bloco técnico e as unidades isoladas de telecomunicações, Meteorologia e VLF.

 

Reconstrução, abril 2018

 

De abril a outubro de 2018, todo o material necessário para o término da obra ficou armazenado em Punta Arenas, Chile.

A segunda etapa teve início com o retorno do navio Magnólia, fretado pela CEIEC, à Ferraz, no dia 8 de outubro de 2018 e iniciou os seguintes trabalhos, naquele verão antártico:

a) O término da montagem do prédio principal composto pelos blocos Leste, Oeste e Técnico; e

b) Conclusão dos módulos isolados: de telecomunicações, de Meteorologia/Ozônio, de VLF, lavagem de sedimentos, de mergulho e paiol de resíduos perigosos.

Nessa fase trabalharam na reconstrução 263 operários da CEIEC e sete fiscais designados pela SECIRM, sendo cinco Engenheiros Navais da Marinha e dois do IBAMA, com o apoio do Grupo Base (GB) composto de 16 militares.

A concretização desse projeto representou um importante avanço para a história do Brasil na Antártica, esperando-se que o sucesso de sua implementação sirva como exemplo das possibilidades humanas naquele continente e de impulso para novas iniciativas brasileiras rumo à expansão das atividades científicas no Continente Branco.

A Reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz - EACF foi um grande desafio para a Marinha do Brasil, envolvendo soluções técnicas de engenharia para garantir a segurança da edificação e das pessoas, e as condições adequadas para o desenvolvimento das pesquisas no ambiente antártico. As principais condicionantes são as baixas temperaturas, os fortes ventos, a atmosfera agressiva e os abalos sísmicos. Estes, em particular, são capazes de provocar grandes estragos, dependendo da sua magnitude, devendo ser avaliados uma vez que a região possui um histórico de ocorrências, como observado no dia 27 de agosto de 2018, de magnitude 5,6 que, embora moderada, poderia ter causado algum dano, caso não considerado no dimensionamento das fundações.

Os trabalhos de reconstrução envolveram ainda uma logística que busca assegurar o bom estado dos materiais e equipamentos a serem utilizados, que vão desde os cuidados com o transporte dos elementos construtivos no interior do navio, desde Xangai, até o posicionamento e a implantação de toda a estrutura e das instalações da edificação no local.

O projeto da Estação considerou, além da durabilidade, da estabilidade e segurança estruturais necessárias à sua vida útil no ambiente adverso, a facilidade de operação e manutenção dos equipamentos. Também foi uma das premissas a preservação ambiental, de forma a garantir o menor impacto possível.

Nesse contexto, o projeto inclui sistemas para geração de energia limpa, tais como eólica e solar, além do aproveitamento do calor dos diesel-geradores (cogeração). O gerenciamento da produção, distribuição e armazenamento de energia permite um menor consumo de combustível fóssil, com a consequente redução da emissão de carbono. Assim, foi uma importante decisão adotar o estado da arte em tecnologia a fim de compatibilizar a energia gerada pelos motores diesel com recursos alternativos, além do gerenciamento do consumo com o armazenamento em baterias de longa duração.

 

Painéis de Energia Eólica

 

Ao longo de todo o processo de execução dos trabalhos para a reconstrução, desde as primeiras investigações geológico-geotécnicas até a montagem dos módulos da Estação propriamente dita, foram observados procedimentos com grande potencial para o desenvolvimento de inovações tecnológicas, tais como adaptações de ensaios de campo para solos congelados ou permanentemente congelados (permafrost) à utilização de sistemas de monitoramento que permitirão a aquisição de dados para análise do comportamento da edificação frente às condições impostas pela Natureza.

 

 

 

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Módulos de Telecomunicações, Meteorologia, VLF e Bloco Técnico

 

Um grupo de pesquisadores liderado pelo IBAMA, realizou o monitoramento da área da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) a partir de coletas de solo, sedimentos, ar, água, musgos e algas, para verificação do nível e abrangência de contaminação na região. Com base nos resultados foi implementado um plano de monitoramento, com o intuito de eliminar ou atenuar a contaminação durante a reconstrução. Assim, um Programa de Biorremediação e Monitoramento da EACF foi realizado.

 

Após o Plano de Biorremediação, foi efetuado o trabalho de transplante de musgos em torno da EACF

 

Dessa forma, o Brasil passou a integrar o seleto grupo de países que possuem conhecimento ambiental em solo antártico, o que possibilitou o desenvolvimento de novas técnicas na realização de obras de grande porte, com monitoramento e redução do impacto ambiental, essencial na preservação daquele continente.

 

Agosto de 2019

 

A Nova Estação, inaugurada em 15 de janeiro de 2020, proporciona as condições adequadas de habitabilidade e segurança, com capacidade para 64 pessoas, no verão, e 35 no inverno, permitindo a sua utilização ao longo do ano e o desenvolvimento das pesquisas antárticas. As edificações ocupam uma área de 4.500m², possuindo, além dos alojamentos (32 unidades) e dos laboratórios (14 no interior da Estação e mais 3 na área externa), um setor de saúde, uma biblioteca e sala de estar.

Há quase 40 anos os pioneiros do PROANTAR hastearam pela primeira vez a nossa bandeira na EACF. Ainda hoje, o nosso pavilhão permanece tremulando naquela localidade. A dimensão das atuais instalações é compatível com a importância que o Brasil conquistou no cenário Antártico, tanto como Membro Consultivo do Tratado da Antártica, desde 1983, como, a partir de 1984, do Comitê Científico de Pesquisas Antárticas – SCAR. A nova Estação atenderá às demandas de pesquisas nacionais e de cooperação internacional na área científica.