A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) está localizada na Península Keller, na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, arquipélago das Shetland do Sul, na posição de latitude 62° 05'S e longitude 058° 24'W.
A Ilha Rei George, de aproximadamente 95 x 20 km, possui uma calota de gelo permanente que cobre cerca de 92% da ilha e atinge a altitude máxima de 686 metros, com uma espessura máxima de gelo de 357 m. Esta calota de gelo escorre a partir do platô central em direção à baía do Almirantado, formando várias geleiras, que mergulham nas águas da baía.
A península Keller está situada no extremo norte da baía do Almirantado e é uma entre várias penínsulas livres de gelo nas Shetland do Sul. Ela avança cerca de 4 km a partir da calota de gelo da ilha Rei George, separando a enseada Mackellar da enseada Martel.
Ao longo das praias próximas da EACF, formadas principalmente de pedras e sedimentos de origem vulcânica, podem ser observados vários ossos de baleia, fruto do período de caça a esse cetáceo, nessa região.
Focas, pinguins, baleias e pássaros, principalmente no verão, fazem da baía do Almirantado o seu habitat. Musgos e líquens, alguns com 600 anos de existência, afloram no verão em algumas áreas rochosas, após o derretimento da neve e do gelo. A temperatura absoluta, no verão, varia normalmente de -5°C a +4°C, podendo atingir -30°C no inverno. O vento, entretanto, faz a sensação térmica alcançar valores bem mais baixos. É comum os ventos ultrapassarem os 100 km/h.
HISTÓRIA
O Brasil aderiu ao Tratado Antártico em 1975. Em dezembro de 1982, realizou sua Primeira Operação Antártica (OPERANTAR I), com a participação do Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) “Barão de Teffé”, da Marinha do Brasil, e do Navio Oceanográfico (NOc) “Professor Besnard”, da Universidade de São Paulo (USP).
A OPERANTAR I, além de ter sido marcada pela natural efervescência que costuma acompanhar os grandes acontecimentos, também foi caracterizada pela necessidade de aquisição de conhecimentos específicos para o desenvolvimento do projeto para uma Estação Científica. Desde aparentes pequenos desafios – como a definição do esquema básico da distribuição de móveis e equipamentos –, até problemas complexos, como a escolha do melhor material e técnica construtiva de acordo com as restrições logísticas, tudo era novidade aos envolvidos na tarefa de planejar a futura Estação. Também, pouco se conhecia sobre as dificuldades para se trabalhar em temperaturas baixas e sujeitas à ação dos fortes ventos e neve constante. Assim, cada detalhe deveria ser pensado para contornar a provável falta de apoio de qualquer natureza, característica do ambiente antártico.
O sucesso da Operação Antártica I resultou no reconhecimento internacional de nossa presença na Antártica, o que permitiu, em 27 de setembro de 1983, a aceitação do Brasil como Parte Consultiva do Tratado da Antártica, fortalecendo ainda mais a necessidade de implantação de uma Estação permanente.
A OPERANTAR II (1984) foi marcada pela implantação da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), nome escolhido para homenagear o Capitão de Fragata Luiz Antônio Ferraz, Oficial de Marinha, hidrógrafo, morto aos 42 anos, e um dos idealizadores e incentivadores do Programa Antártico Brasileiro. Em 06 de fevereiro de 1984, foi inaugurada a EACF, e sua primeira equipe, o Grupo-Base composto de doze homens, guarneceu os oito módulos (contêineres) da EACF (cerca de 150 m2), durante 32 dias, no período de verão, deixando-a desativada até o início da próxima Operação.
A EACF em 1984, composta por 8 módulos.
O primeiro Grupo-Base (12) da EACF
Durante a OPERANTAR III (1984-1985) a EACF foi ampliada para 36 módulos, distribuídos em camarotes, cozinha, lavanderia, biblioteca, sanitários, paióis e instalações de apoio. Com isso, sua capacidade de alojamento aumentou para 22 pessoas.
A OPERANTAR IV (1985-1986) teve como uma das principais missões preparar a EACF para a permanência de uma equipe de brasileiros durante o inverno, tendo sido ampliadas suas instalações em quatorze módulos, dos quais seis eram tanques de combustíveis. Nessa Operação, pela primeira vez, um grupo de onze brasileiros passou os oito meses de inverno no Continente Antártico.
Grupo-Base de 11 brasileiros que invernou em 1986.
A OPERANTAR VIII (1989-1990) foi marcada pela instalação do módulo isolado de pesquisa de Very Low Frequency (VLF), permitindo o início dos estudos sobre a propagação eletromagnética na ionosfera na região. Alguns módulos de pesquisa foram instalados distantes da EACF para evitar interferências nos equipamentos eletrônicos mais sensíveis.
Módulo VLF
Em 29 de dezembro de 1992, durante a OPERANTAR X (1991-1992), a Força Aérea Brasileira realizou o primeiro lançamento de carga por paraquedas próximo à EACF, possibilitando que, mesmo durante o inverno, os habitantes da Estação recebam gêneros frescos, sobressalentes emergenciais e correspondência vinda do Brasil.
Lançamento de carga realizado por uma aeronave C-130 da FAB
Durante a OPERANTAR XVI (1997-1998), atendendo às necessidades logísticas, foi estabelecido um novo sistema de comunicações entre o continente sul-americano e a EACF por meio de um convênio do PROANTAR com a empresa de telecomunicações chilena ENTEL-Chile, permitindo aos pesquisadores e GB o acesso à telefonia, fax e internet.
Em 2001 foi elaborado um amplo diagnóstico da estrutura física da Estação e dos Refúgios brasileiros na Antártica, os quais serviram de base para a elaboração de um planejamento para a recuperação e manutenção continuada da EACF.
Em 6 de fevereiro de 2004 a EACF completou 20 anos. Na OPERANTAR XXII (2003-2004), além da continuação dos intensos trabalhos de manutenção e de reabastecimento da EACF deu-se início ao planejamento da revitalização da Estação, para melhor apoiar as pesquisas e para reduzir ainda mais os impactos ambientais decorrentes das atividades científicas e logísticas desenvolvidas. O novo desenho da Estação foi alicerçado no conceito da busca de eficiência nas edificações, principalmente nos aspectos relacionados às questões térmicas, acústicas, energética, de funcionalidade e de segurança. O início da revitalização foi marcado pela construção de um anexo na fachada principal, demarcando e enfatizando o acesso principal, onde foi criado um painel com as cores nacionais, fazendo com que o conjunto edificado adquirisse uma identidade própria.
Em janeiro de 2005, durante a OPERANTAR XXIII (2004-2005), foi instalado um moderno sistema de telecomunicações totalmente nacional, através de convênio com a empresa telefônica Oi. O sistema possibilitou a integração da EACF aos sistemas da Marinha do Brasil, proporcionando acesso à internet de alta velocidade, facilitando as constantes e necessárias trocas de informações com os centros de estudos de diversas partes do mundo.
No decorrer das OPERANTAR XXIV (2004-2005) e OPERANTAR XXV (2005-2006) foram realizadas obras de revitalização e modernização da Estação. Dentre as principais adequações, executadas pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), pode-se destacar: ampliação do paiol de gêneros e capacidade de armazenamento de material frigorificado; a reforma da sala de secagem e entrada da Estação; instalação de novos tanques de óleo combustível financiados pela PETROBRAS; a construção da garagem; ampla reforma dos laboratórios; instalação de novo incinerador e área de recolhimento/seleção de resíduos; aumento da capacidade com a reforma dos camarotes antigos e criação de nova ala de camarotes e sanitários; reforma na sala de estar, copa e cozinha; implantação de uma padaria; construção de nova biblioteca, ginásio, centro de documentação e de processamento de dados; recuperação de banheiros e melhoria das demais estruturas internas. Na área externa, foram reformados o módulo de química e o Refúgio 2.
Na madrugada do dia 25 de fevereiro de 2012, durante a OPERANTAR XXX (2011-2012), a EACF sofreu um incêndio que afetou 70% de suas instalações. Permaneceram intactos os refúgios (módulos isolados para casos de emergência); os laboratórios de meteorologia, de química e de estudo da alta atmosfera; os tanques de combustíveis; dois módulos de captação de água doce; e as estruturas isoladas do prédio principal (Estação Rádio de Emergência e o heliponto).
Apesar do incidente, as pesquisas científicas prosseguiram a bordo dos navios NPo “Almirante Maximiano” e NapOc “Ary Rongel”, em acampamentos temporários instalados na área Península Antártica e também nas estações antárticas de outros países, com os quais o Brasil tem sólida cooperação na Antártica.
RECONSTRUÇÃO
Iniciada no dia 6 de outubro de 2012, a OPERANTAR XXXI (2012-2013) foi considerada a OPERANTAR mais complexa já realizada pelo Brasil em razão dos aspectos logísticos e operacionais, pois envolveram elevado número de recursos humanos e meios materiais: 500 pessoas envolvidas, cinco navios foram utilizados simultaneamente, cerca de 900 toneladas de escombros e resíduos foram retirados da EACF, no período de outubro e dezembro de 2012).
900 toneladas de escombros foram retirados durante a OPERANTAR XXXI
Uma das maiores operações logísticas já realizadas pela Marinha do Brasil, onde foram utilizados 5 navios simultaneamente
Mais de 500 homens e mulheres trabalharam nessa OPERANTAR
Ainda no mesmo verão antártico foram instalados os Módulos Antárticos Emergenciais (MAE), que permitiram, já em 2013, a permanência do Grupo-Base durante o inverno naquela estrutura, e também a continuidade das pesquisas em campo na Baía do Almirantado, bem como o apoio para as atividades de reconstrução da futura Estação.
Instalados sobre o heliponto, e nas proximidades da antiga EACF, os MAE foram projetados para compor um sistema completo e autossuficiente. Além disso, 100% do material é recuperável e transferível para outros locais, no todo ou em parte, dependendo das especificidades da nova missão. Composto por 45 módulos, tem capacidade para acomodar até 66 pessoas, em uma área de aproximadamente 940 m² com dormitórios, banheiros, enfermaria, cozinha, refeitório, escritório e um laboratório.
Módulos Antárticos Emergenciais (MAE)
Em 15 de janeiro de 2020, foram inauguradas as novas instalações da EACF.