Sabe-se há algum tempo que o termo saúde mental não se refere simplesmente à ausência de um transtorno mental, pois engloba o bem-estar cognitivo, comportamental e emocional. São diversos fatores que influenciam nas habilidades mentais, sentimentais e no agir, como, por exemplo, condições genéticas, vivências pessoais, interações sociais, aspectos culturais e familiares. Não é de se surpreender que a adolescência, por compreender uma fase de vida na qual recursos mentais estão sendo “maturados e enriquecidos”, seja uma etapa suscetível ao desenvolvimento de transtornos mentais que podem até mesmo levar o jovem a um ato extremo: o suicídio.
O suicídio entre jovens de 11 a 20 anos aumentou 49,6% entre 2014 e 2019 e ainda mais com a pandemia de COVID-19. Isto mostra que pais, familiares, professores e amigos devem estar atentos a qualquer sinal de comportamento suicida (expor pensamentos relacionados ao tema, indícios de planejamento e tentativa de suicídio) demonstrado pelo jovem.
Há diversos fatores de risco envolvendo o suicídio que podemos listar, como:
- término de relacionamento;
- lutos;
- autocobranças excessivas,
- dificuldade em lidar com decepções e baixa tolerância a frustrações;
- imediatismo;
- depressão;
- tentativas prévias de suicídio;
- falta de perspectiva e de oportunidades;
- desesperança e sentimento de vazio;
- vivência de situações de violências;
- questões envolvendo a própria imagem;
- comparações excessivas;
- sentimento de exclusão e não adequação; e
- exposição a situações de humilhação.
Uso inapropriado das redes sociais
Alguns dos fatores de risco mencionados podem ser potencializados ou manifestados a partir de uma utilização não saudável das redes sociais. Um consumo descontrolado desta natureza pode levar ao prejuízo da saúde mental, não se limitando somente ao tempo gasto que poderia ser dedicado a outra tarefa.
Este uso exacerbado pode ocasionar diversas condições, como:
- precipitação de sintomas ansiosos físicos e mentais, pela busca constante de estar interagindo e atualizado com novas postagens;
- prejuízo da quantidade e qualidade do sono (pesquisas mostram que percentual elevado dos jovens utiliza redes sociais na hora que precede o início do sono);
- sintomas depressivos e baixa autoestima com prejuízo da autoimagem, por não se ver possibilitado de atingir estereótipos em maior evidência e, pelo imediatismo, se achar aquém de atingir estatísticas exigidas nas redes sociais;
- competição e a busca pela aceitação ou popularidade, com a necessidade constante de agradar e mostrar-se bem a quem visualiza e aos seguidores;
- redução do rendimento escolar ou laboral, com a atenção prejudicada e procrastinação em decorrência da incessante necessidade de atualização das informações e postagens;
- isolamento social, maior tempo em celulares e outros meios digitais em prejuízo do convívio pessoal e familiar; desinteresse por atividade física e ganho do peso corporal, substituindo atividades benéficas à saúde e se descuidando de uma alimentação saudável e regular; e
- cyberbullying, o qual consiste na intimidação, exposição vexatória, perseguição, depreciação e difamação por meio de ambientes virtuais, como redes sociais, e-mails e aplicativos de mensagens, sendo a incidência maior de casos entre os adolescentes.
Cyberbullying
Em especial, o cyberbullying tem chamado a atenção na imprensa e preocupado familiares e amigos. No geral, as características iniciais são o isolamento e a tristeza. A continuidade pode evoluir para transtornos depressivos, ansiedade e pânico. Pode, como agravamento e sem a interrupção, levar a traumas pelo resto da vida, comprometendo o rendimento escolar, ocasionando a baixa autoestima, dificuldades de relacionamento e de ingresso no mercado de trabalho futuramente, além da maior propensão de buscar o consumo de drogas ilícitas e álcool como saída, manifestar comportamento impulsivo e até mesmo cometer suicídio.
Atenção para o uso das redes sociais
Para o uso saudável das mídias sociais, convém ao usuário e responsáveis pelo adolescente, atenção aos seguintes cuidados:
- estipular o tempo de exposição às redes sociais (há aplicativos que contam o tempo em que se gasta nas redes sociais, sendo possível programar aviso para saber quanto tempo utilizou e assim ajudar a se organizar);
- incentivar atividades físicas e buscar outros meios de distração e lazer;
- evitar o consumo próximo ao horário de dormir;
- estimular a priorizar páginas que agreguem valor;
- alertar e evitar a exibição de intimidades na Internet;
- buscar filtrar a fonte e avaliar a veracidade das informações divulgadas;
- não disseminar conteúdos de cunho preconceituoso ou imoral;
- monitorar e desencorajar práticas de cyberbullying;
- observar o comportamento no dia a dia do adolescente e o incentivar a expressar suas emoções; e
- não ter receio de buscar auxílio de profissionais da saúde mental para orientações e tratamento.
CC (Md) Bandeira de Mello
Ajudante da psiquiatria na UISM
Fonte:
https://suicidologia.org.br/index.php/2022/01/07/saude-mental-o-conceito/
https://www.paho.org/pt/topicos/depressao
https://www.azos.com.br/vida-segura/estudo-sobre-suicidios-no-brasil
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cyberbullying.htm