A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes causadas por estas doenças serão responsáveis por 31,5% do total de óbitos em 2020.
A elevação dos níveis de pressão arterial, por sua vez, tem forte associação com a obesidade, que vem a ser uma das principais causas da hipertensão. Um dos motivos para a relação que há entre estas duas comorbidades é que o adipócito, célula que armazena gordura, também tem função endócrina (hormonal). Ou seja, ele é capaz de produzir várias substâncias que participam dos mecanismos fisiopatológicos da hipertensão.
Nesse sentido, o controle do peso, juntamente com a redução da circunferência da cintura, devem ser sempre considerados na prevenção e no tratamento do paciente hipertenso. Para isso, é importante a adoção de uma dieta adequada complementada com a realização de atividade física regular.
O tratamento dietético para perda de peso deve ser individualizado, isto é, deve considerar variáveis como idade, grau de sedentarismo, preferências, acessibilidade e outras informações obtidas durante a consulta com o nutricionista. Esse tipo de abordagem proporciona uma reeducação alimentar e permite melhores resultados, além de maior adesão a um estilo de vida mais saudável, o que é mais viável com a ajuda de um profissional.
O nutricionista, além de considerar esses fatores, não recomenda dietas “da moda”, normalmente com conteúdo calórico muito baixo, ou seja, muito restritivas, pois além de não fornecerem nutrientes importantes para o controle da hipertensão, podem gerar distúrbios alimentares. A meta de perda de peso deve ser menos ambiciosa e mais realista para que seja possível atingir e manter o peso ideal a longo prazo. Perdas ponderais entre 5 e 10% do peso inicial, por exemplo, podem ser suficientes para produzir alterações benéficas nos níveis da pressão arterial, prevenindo assim a progressão do quadro hipertensivo.
Dentre os hábitos alimentares mais responsáveis pelo acúmulo de gordura corporal está a grande frequência de consumo de alimentos ultraprocessados, como por exemplo os embutidos (mortadela, salsicha, salame, presunto), biscoitos, bolos industrializados e grande parte dos produtos prontos para consumo que são comercializados. Estes alimentos, em geral, são ricos em energia (calorias) e possuem quantidades significativas de açúcar, gordura hidrogenada e sódio. Por isso, o consumo de produtos menos processados tem sido tão incentivado como base da alimentação para o controle do peso e dos níveis de pressão arterial.
Considerando que a obesidade é uma doença complexa, o envolvimento de uma equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento. Além do nutricionista e do educador físico, em muitos casos, pode ser necessário apoio psicológico para trabalhar as questões emocionais que estão por trás do comportamento alimentar do indivíduo.
Dentro desse contexto interdisciplinar, o nutricionista contribui auxiliando o paciente no desafio de aumentar sua ingestão de fibras, adequar seu consumo de carboidratos e proteínas, e controlar sua ingestão energética, sem, porém, abrir mão de alimentos nutritivos e que fornecem maior saciedade. Desta forma, é possível fazer escolhas melhores, evitando restrições desnecessárias, o que consequentemente aumenta sua motivação para se manter no tratamento de redução de peso.
Primeiro-Tenente (RM2-S)
Assistente da Seção de Nutrição
Policlínica Naval de Campo Grande