No dia 4 de abril, é celebrado o Dia Nacional do Parkinsoniano. Ainda sem causa conhecida, a doença de Parkinson é crônica, progressiva e atinge o sistema nervoso central, comprometendo os movimentos. Ela não tem cura e se informar a respeito é fundamental para buscar ajuda no tempo adequado e iniciar o tratamento o quanto antes. Apesar de atingir jovens, a doença de Parkinson acomete, na maioria, pacientes a partir dos 60 anos e sua prevalência aumenta a partir dos 70/75 anos.
Para saber mais sobre a doença e suas implicações, o Saúde Naval conversou com a Capitão de Fragata, Médica, Karla Lacerda, do Centro de Atenção à Terceira Idade, que explicou como ocorre o diagnóstico, os principais sintomas e a forma correta de acompanhar o paciente com Parkinson.
O que é o CATI e como ele funciona?
O CATI é o Centro de Atenção à Terceira Idade, que funciona diariamente na Policlínica Naval Nossa Senhora da Glória (PNNSG) e tem como propósito promover a atenção qualificada e integrada ao usuário do Sistema de Saúde da Marinha com idade igual ou superior a 60 anos, frágil ou em risco de fragilização. O objetivo é prevenir os agravos à saúde e manter a capacidade funcional. O programa consiste em uma proposta de atendimento ambulatorial prestada por uma equipe com múltiplos profissionais, que trabalha por meio de uma forma interdisciplinar na busca da integralidade da atenção e na melhoria da qualidade de vida do usuário.
Fale um pouco sobre a sua experiência com pacientes portadores de Parkinson
A Doença de Parkinson (DP) não é de fácil diagnóstico. Os pacientes, ao serem atendidos no ambulatório, muitas vezes já se consultaram em diversas clínicas sem hipótese diagnóstica definitiva. É importante que se estabeleça uma relação médico-paciente satisfatória, uma vez que a doença é crônica e cursa com sintomatologia variada, que necessita da adesão do paciente à medicação e colaboração com outras medidas instituídas. Os pacientes com DP, ao receberem o diagnóstico e aderirem ao tratamento, ficam satisfeitos com a melhora observada após o início da medicação, pois a resposta sintomática tende a ser imediata. O acompanhamento regular destes pacientes e a boa relação com os familiares e cuidadores são primordiais para dar o suporte necessário devido às complicações decorrentes da doença e do tratamento em longo prazo.
O tremor é a principal característica associada à doença, mas existem outros sintomas, inclusive, não motores. Quais são?
O tremor de repouso ainda é o primeiro sintoma reconhecido em indivíduos com DP. Entretanto, outros sinais são identificados e considerados cardinais para o diagnóstico da doença: a bradicinesia, que é o alentecimento ou dificuldade de iniciar movimentos voluntários; a rigidez; e a instabilidade postural. Outras manifestações motoras observadas e muito características são a postura flexionada para frente com braços à frente do corpo, faces inexpressivas e acúmulo de saliva na cavidade bucal.
Alguns estudos reforçam o conceito de que as manifestações não motoras, como alterações no olfato, no sono, constipação intestinal e disfunção erétil, podem preceder os sintomas motores. Além destes, encontramos transtornos de humor, depressão, apatia, hipotensão arterial e alterações cognitivas.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 1% da população mundial acima de 65 anos tem Parkinson e sabemos que o diagnóstico precoce é fundamental para retardar seu avanço e proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente. É comum as pessoas confundirem os sintomas da doença com características do envelhecimento e, assim, atrasar o diagnóstico? Como não atribuir os sinais de Parkinson ao avançar da idade?
Muitas das manifestações citadas, em especial as não motoras, são comuns na população idosa, de modo que estas queixas podem não ser valorizadas e comumente atribuídas ao envelhecimento.
O alentecimento observado pode também ser atribuído à idade e retardar a ida ao médico.Uma história clínica detalhada, atentando para o relato de quedas frequentes, um exame físico minucioso e a identificação de sinais cardinais estão diretamente relacionados à eficácia diagnóstica. Vale ressaltar que alguns medicamentos estão associados aos sinais de parkinsonismo, por isso é necessário listar ao médico os medicamentos usados pelos pacientes.
Pacientes com Parkinson, além do neurologista, necessitam de acompanhamento de uma equipe multiprofissional. Quais profissionais devem estar envolvidos e qual o impacto desse acompanhamento na vida do paciente?
A atuação de uma equipe que atue de maneira interdisciplinar é um coadjuvante fundamental, associada ao tratamento farmacológico, para manter a funcionalidade e o equilíbrio psicológico o maior tempo possível. O trabalho do fisioterapeuta, atuando na melhoria do equilíbrio e da postura; do fonoaudiólogo, na melhoria da voz e da deglutição; do nutricionista, permitindo um aporte proteico e calórico adequado; e do psicólogo, fornecendo um equilíbrio e apoio ao paciente e a sua família, fazem parte da estratégia terapêutica que deve ser iniciada no momento do diagnóstico.
Existe alguma forma de prevenir a doença de Parkinson?
Não. Apesar do avanço de novos conhecimentos sobre a DP, sua causa permanece desconhecida. A teoria de exposição a neurotoxinas ambientais (encontradas na água em zonas rurais, em algumas plantas, herbicidas e pesticidas), fatores genéticos e acúmulo de radicais livres tem sido proposta para explicar os mecanismos envolvidos. A adoção de um estilo de vida saudável permanece como recomendação para um envelhecimento ativo.