Transtorno do Espectro Autista (TEA): entenda os sinais e trate precocemente

Enviado em: 01/04/2020

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Esse é um dos transtornos do desenvolvimento do sistema nervoso que mais predomina na infância. Suas principais características são alterações da comunicação, seja linguagem verbal e/ou não verbal, da interação social e de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

O início dos sintomas pode se tornar mais evidente no primeiro ano de vida ou pode ocorrer um desenvolvimento normal até 12-18 meses de idade e, então, ocorre a regressão da linguagem e/ou das habilidades sociais já adquiridas, o que ocorre em 30% dos casos. O mais típico é acontecer uma parada no desenvolvimento após os 6 meses ou ocorrer a desaceleração do desenvolvimento.

O TEA é uma condição permanente, sem possibilidade de cura, ainda que a intervenção precoce possa suavizar os sintomas. Dentre os sinais precoces que sugerem o TEA no primeiro ano de vida, podemos destacar:

  • Perda de habilidades já adquiridas, como o balbucio, o contato ocular ou sorriso social;
  • Não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente;
  • Não apresentar sorriso social ou verificar baixa reciprocidade social;
  • Fraco contato ocular e deficiência no olhar sustentado;
  • Baixa atenção à face humana (preferência por objetos);
  • Não seguir objetos e pessoas próximas quando em movimento;
  • Apresentar pouca ou nenhuma emissão dos sons da voz;
  • Não aceitar o toque de terceiros;
  • Apresentar imitação pobre;
  • Manter interesses não usuais, como fixação em estímulos sensório-viso-motores (ex: objetos giratórios);
  • Ter incômodo incomum com sons altos;
  • Apresentar distúrbios do sono e
  • Verificar irritabilidade quando no colo ou poucas respostas durante a amamentação.

Uma avaliação consistente é fundamental e indispensável, devendo fazer parte da consulta de rotina com o pediatra no primeiro ano de vida, quando os possíveis atrasos são detectados e devem ser encaminhados para estimulação precoce e investigação clínica em serviços especializados, com Psiquiatra Infantil ou Neuropediatra.

Nos últimos anos, as estimativas do TEA têm aumentado dramaticamente. Conforme estatísticas americanas apresentadas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a prevalência em 2104 era de 1 para cada 59 pessoas, afetando 4 vezes mais o sexo masculino. O risco de recorrência em um familiar de paciente autista é significativamente maior do que na população em geral.

Cerca de 70% dos pacientes com diagnóstico de TEA podem ter um transtorno psiquiátrico comórbido (quando duas ou mais doenças estão relacionadas) e 40% podem ter dois ou mais transtornos associados. Dentre as principais comorbidades psiquiátricas, destacam-se o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Distúrbios do Sono, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo e Transtorno Depressivo.

Outra comorbidade na população autista, variando de 30 a 50%, é a de deficiência intelectual. O autismo também está associado à epilepsia em 30% dos casos. Outras condições médicas, como síndromes genéticas, também estão frequentemente associadas ao TEA e destacam-se, a Síndrome do X Frágil, Síndrome de Down, Síndrome de Turner, Neurofibromatose e Síndrome de Angelman.

O TEA é multifatorial, ou seja, existe um fator genético, como também fatores ambientais. Estudos recentes consideram que a contribuição genética esteja ao redor de 90%, sobrando para o componente ambiental 10% da responsabilidade. Infecções maternas, uso de certos medicamentos, prematuridade, baixo peso ao nascer são alguns dos fatores de risco ambiental. Familiar de primeiro grau acometido, presença de defeitos congênitos, idade materna ou paterna acima de 40 anos, são alguns dos fatores de risco para um componente genético.

O diagnóstico do TEA é essencialmente clínico. Durante o atendimento, uma entrevista detalhada com os pais e cuidadores do paciente, com busca de informações sobre a gestação, condições do parto, história familiar e início dos sintomas, além de cuidadosa observação clínica do comportamento do mesmo, também são fundamentais para a elucidação diagnóstica.

Em 2013, o diagnóstico de Síndrome de Asperger foi retirado da quinta edição do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), sendo os sintomas incluídos dentro do TEA. Os pacientes com Síndrome de Asperger costumam apresentar o diagnóstico mais tardio, pois geralmente não há atraso de linguagem verbal e a cognição (inteligência e memória) é preservada.

O comprometimento da linguagem pode ser verificado por meio de um discurso de mesma entonação, empobrecido na linguagem não-verbal e no entendimento da linguagem de sentido figurado. Podem apresentar olhar nos olhos não sustentado, com tendência a desviar o olhar com frequência, face pouco expressiva, pouco interesse no outro, interesses restritos e pouca socialização, dentre outros. Há também aqueles indivíduos que apresentam habilidades superiores ao normal que podem ser as mais variadas possíveis.

Dentre os mitos associados ao TEA, talvez o mais difundido, diz respeito à relação entre a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e o transtorno. Estudos mostraram não haver nenhuma evidência entre esta e qualquer outra vacina do calendário infantil com o aumento do risco para o TEA.

Outra controvérsia é sobre a manipulação de dietas sem glúten ou caseína (utilizada como um auxiliar no ganho de massa magra), bem como a suplementação de vitaminas e ômega-3, como tratamento adicional não farmacológico para o Transtorno do Espectro Autista. Até o presente momento, tais propostas nutricionais não têm fundamentação científica.

O tratamento para o TEA é a intervenção precoce, que deve ser iniciada tão logo haja suspeita ou imediatamente após o diagnóstico. Cada criança com TEA apresenta necessidades diferentes, devendo receber avaliação terapêutica personalizada permitindo um plano individualizado de intervenção, elaborado por equipe interdisciplinar (psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, educadores físicos e musicoterapeutas). Os objetivos gerais a serem alcançados visam melhorar a qualidade de vida, aumentar o potencial do desenvolvimento social e de comunicação da criança, autonomia, independência e inserção escolar.

A intervenção com medicamentos como coadjuvante no tratamento dos pacientes com TEA tem como alvo, sintomas específicos, que podem prejudicar bastante a sua funcionalidade e rendimento, tais como a agitação psicomotora, agressividade, impulsividade, irritabilidade, desatenção e insônia.

O Grupo de Avaliação e Acompanhamento de Pacientes Especiais (GAAPE) pertencente à Policlínica Naval Nossa Senhora da Glória (PNNSG) e conta com equipe interdisciplinar composta por médicos (pediatra do desenvolvimento e psiquiatras), fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos, que buscam constantemente a atualização para o melhor atendimento da Família Naval. O atendimento no GAAPE deve ser agendado pelo telefone (21) 2566-1234.


CC (Md) CLARISSA LOUREIRO RODRIGUES SEBA
MÉDICA ASSISTENTE DO GAAPE




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