Um país entregue à violência, à barbárie e aos caos. Esse era o cenário do Haiti em 2004, ano em que, por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, foi criada a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). O Brasil, desde o início, esteve à frente do componente militar da MINUSTAH, com a participação da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, além do apoio de tropas de outros 20 países.
A partida do então presidente, Jean-Bertrand Aristide, para o exílio, em fevereiro de 2004, deixou o Haiti à beira de uma guerra civil. Cabia à ONU, naquele momento, garantir um ambiente seguro e estável ao país, a fim de contribuir para que os objetivos políticos e de direitos humanos pudessem ser alcançados. A tarefa não foi fácil: o efetivo estava abaixo do previsto inicialmente, a estrutura do país era precária, o comércio, quase inexistente, as gangues estavam espalhadas pelas favelas e cidades haitianas, dentre diversos outros problemas que o país caribenho enfrentava.
Aos poucos, com os empecilhos sendo contornados, o país foi alcançando a tão sonhada estabilidade. Em 2010, no entanto, um terremoto destruiu praticamente todo o trabalho que vinha sendo feito por parte da ONU, gerando uma crise sem precedentes, inclusive de segurança, com a fuga de mais de 5 mil prisioneiros da capital. Cerca de 250 mil pessoas perderam suas vidas nessa catástrofe e 40 mil tiveram membros amputados. Coube às tropas da ONU socorrer aquelas pessoas, retirá-las dos escombros, fazer a distribuição de gêneros e prover ajuda humanitária, além da tarefa de capturar os fugitivos. O trabalho estava recomeçando praticamente do zero.
Em 2016, outra catástrofe natural atingiu o país. A diferença é que a tropa já estava preparada e foi enviada à área do furacão Matthew com dois dias de antecedência, o que contribuiu para a recuperação pós-furacão. O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais e a Engenharia do Exército Brasileiro foram as primeiras tropas a chegar e a liberar a estrada para que os comboios com a ajuda humanitária pudessem passar. Logo em seguida, fizeram a escolta de 25 viaturas do World Food Program.
Somente no âmbito de Marinha, ao longo dos 13 anos da missão de paz, foi enviado um total de 6.135 militares, divididos por 26 contingentes. O 26º e último foi o responsável pela desmobilização da Base de Fuzileiros Navais Acadêmica Raquel de Queiroz, onde ficaram instalados os Fuzileiros Navais ao longo de toda a missão, em uma área adjacente ao aeroporto de Porto Príncipe.
Em outubro de 2017, com um país mais seguro e estável, a MINUSTAH chegou ao fim. Hoje, a segurança está a cargo da Polícia Nacional do Haiti, que atualmente conta com um efetivo de 15 mil homens – 10 mil a mais do que possuía em 2004. Após 13 anos de muitos desafios e superação, com o sentimento de dever cumprido, os Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil deixaram o Haiti e entraram para a história.