Atendimentos foram destinados a crianças e adultos
Após 1.325 km percorridos, em 32 dias de navegação, no rio Paraguai, chegou ao fim, na última sexta-feira (15), a segunda etapa do Projeto Navio (Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada). A ação é realizada pela Marinha do Brasil (MB), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Secretarias de Saúde de Mato Grosso (MT) e de Mato Grosso do Sul (MS), além de pesquisadores nacionais e internacionais.
Com o apoio do Navio de Apoio Logístico Fluvial (NApLogFlu) “Potengi”, do Navio Transporte Fluvial (NTrFlu) “Paraguassu” e do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) “Tenente Maximiano”, subordinados ao Comando da Flotilha de Mato Grosso (ComFlotMT), integrantes do projeto visitaram oito comunidades ribeirinhas do Pantanal, de Ladário (MS) a Cáceres (MT). No período, 498 pessoas receberam atendimentos médicos, odontológicos e laboratoriais. As ações incluíram as comunidades Paraguai Mirim, Porto Domingos Ramos, Barra de São Lourenço, Fazenda Amolar, Porto São Francisco, Porto São Pedro, em MS; e Santo Antônio das Lendas e região de Carne Seca, em MT.
Ao todo, foram realizados 1.583 procedimentos médicos e de enfermagem, 1.409 odontológicos e distribuídos 14.818 medicamentos. Foram aplicadas, também, 170 doses de vacinas contra Influenza, Hepatite, Covid-19, HPV, Febre Amarela, Tríplice Viral, entre outras. Houve doação de roupas, arrecadadas por militares da MB, seus dependentes, e por integrantes do projeto; além de 108 filtros de barro e de 203 cestas básicas, doados pelas Secretarias de Saúde de MS e MT, respectivamente.
O objetivo do Projeto Navio é identificar patógenos virais circulantes nas comunidades ribeirinhas do Pantanal de MT e MS e estudar o impacto das mudanças climáticas na saúde pública. “A iniciativa baseia-se no conceito de Saúde Única e integra o estudo e a relação da saúde humana, animal e do meio ambiente. Por meio dos exames coletados, poderemos detectar os vírus e as bactérias circulantes nas populações ribeirinhas para, com isso, direcionar o atendimento médico e promover políticas públicas de prevenção e tratamento dessas doenças”, explicou o coordenador do projeto e pesquisador da Fiocruz, Luiz Alcântara.
Laboratórios
Os ribeirinhos atendidos nas comunidades foram submetidos a uma triagem geral, coleta de amostras de sangue e teste swab. A partir dos materiais coletados e da coleta de água das casas e do rio, pesquisadores realizaram análises a bordo dos navios, em laboratórios montados no NApLogFlu “Potengi” e no NTrFlu “Paraguassu”. Foi montado, também, um laboratório para sequenciamento genético de vírus e bactérias detectados e classificação dos mosquitos coletados nas localidades visitadas.
Durante as visitas às comunidades, pesquisadores coletaram sangue e fezes de animais, entre eles, galinhas, gansos, equinos e asininos, a fim de detectar doenças de animais circulantes na região. A equipe vacinou, ainda, 208 cães e gatos contra a raiva.
Ao todo, foram realizados 2.653 testes rápidos para análise de Covid-19, Hepatites B e C, Sífilis, Malária, Leishmaniose visceral humana, Chagas e Hanseníase; 4.603 testes moleculares e sorológicos, com objetivo de identificar o tipo de patógeno e analisar a imunidade dos ribeirinhos quanto à Dengue, Zika e Chikungunya; analisadas 116 amostras de fezes, com resultados de 75% positivas para parasitoses intestinais; e 78 amostras de água das casas, sendo que 59% foram positivas para bactérias do grupo coliformes fecais, indicando como impróprias para consumo.
Como parte da pesquisa, foi realizado, ainda, mapeamento genético das doenças detectadas, para identificar as variantes e verificar se há novos vírus e bactérias circulando na região pantaneira. Até o momento, pesquisadores efetuaram o mapeamento do genoma completo de 25 vírus respiratórios, duas sequências parciais de Chikungunya e detectaram 230 gêneros de bactérias, sendo mais de 50% de espécies de bactérias que causam doenças humanas.
“O projeto amplia as atividades já realizadas pelos navios do ComFlotMT, de atendimento médico e odontológico, possibilitando que a MB contribua com a pesquisa científica no país e com a melhoria da qualidade de vida dos ribeirinhos dos dois estados”, ressaltou o Comandante do 6º Distrito Naval, Vice-Almirante Iunis Távora Said.
Para a ribeirinha Leonida de Souza, da comunidade Barra do São Lourenço, localizada a cerca de 200 km de Corumbá (MS), a visita dos navios é a oportunidade que a família tem para realizar procedimentos odontológicos e médicos e receber medicamentos. “Por estarmos longe da cidade, fica muito caro levarmos a família toda para consultas. Vamos aguentando nossas dores com remédios caseiros até termos a oportunidade de receber o auxílio dos navios da Marinha”, contou.