Ana Paula Moura era Técnica em Enfermagem quando ingressou na Marinha pelo Serviço Militar Voluntário de Praças temporárias (SMV-PR) em 2010. Na época, ela tinha plena convicção que deveria sair da instituição, em 2018, totalmente diferente do jeito que entrou e conseguiu: formou-se em Enfermagem, concluiu a pós-graduação, publicou um artigo, dois livros, deu aula e ministrou palestra durante os oito anos em que esteve na Força.
“Meu plano inicial era entrar na Marinha e na sequência não sair como entrei. Depois eu fui estruturar esses planos e colocar meus objetivos”, diz ela.
Hoje, passados três anos que ela saiu da instituição, Ana Paula dá dicas para quem deseja servir como militar temporário na Marinha.
“Saiba entrar na Marinha e, principalmente, permanecer os oito anos íntegros e sair muito bem, se prepare para sair. Você entra com uma visão que vai ser uma boa experiência se você souber aproveitar, porque a Marinha é um mundo. Se você souber aproveitar o que a Marinha tem para te oferecer, você vai sair dez vezes melhor do que quando entrou. Isso vai fazer você olhar para trás e ver que valeu muito a pena”, aconselha ela.
Ingresso na Marinha – Por que você quis participar do processo seletivo SMV-Praças temporárias?
Ana Paula Moura – Inicialmente, não sabia do que se tratava. Uma colega me indicou porque ela tinha feito, disse que era muito bom, inclusive o salário. Tinha vaga para minha área, uma amiga também me incentivou para fazer.
Quais foram as expectativas e sentimentos em relação a ser temporária na Marinha?
Depois que entrei e apurei o que realmente estava por vir, eu vi que minha expectativa era entrar e por ser temporária eu não podia sair da mesma forma que entrei. Dessa forma, o meu foco, desde o primeiro dia da incorporação, era que eu estava entrando por esse portão de um jeito e eu precisava sair totalmente diferente depois de oito anos.
Quais foram seus sentimentos no primeiro dia na Marinha do Brasil?
Foi de ansiedade, frio na barriga e um certo receio do novo, do que estava por vir, não tinha ninguém na família que fosse militar. Não tinha nenhuma informação de lá, eu estava às escuras, tentei descansar o máximo possível, eu trabalhava. Por ser militar, eu tinha noção que ia ralar muito, mas não do quanto.
Ficou o período total de oito anos? Nesse período, o que você antes como civil levou para Marinha para a contribuição deste progresso mútuo?
Fiquei oito anos muito felizes da minha vida. Como civil, já tinha feito alguns cursos na minha área. A minha experiência com trabalho de CTI fez muita diferença para mim na Marinha, levei como contribuição a parte de salvamento e resgate. Isso me deixou bem à vontade para aonde me colocassem para trabalhar. Depois eu pude fazer um curso lá dentro, então fez toda uma diferença nesta área.
Quais foram suas atividades e rotina na Marinha?
Minhas atividades foram na Ortopedia: dava suporte e atendimento aos pacientes. Também atuei na Enfermaria e no Centro Cirúrgico, na Sala de Recuperação Pós-Anestésica. Fiz amizades, graças a Deus, muitas e em muitos setores. Até hoje em dia, sempre tem alguém que me conhece, isso é muito bom e em que algum momento eu pude ajudar.
Quais foram seus planos durante sua atuação no SMV?
Meu plano inicial era entrar na Marinha e na sequência não sair como entrei. Depois eu fui estruturar esses planos e colocar meus objetivos. Queria me formar como enfermeira e a minha intenção era fazer prova para o Corpo de Saúde da Marinha. Como eu só teria uma chance devido à idade, fiz a prova faltando seis meses para ela e queria ver meu rendimento. Passei de primeira e foi tudo maravilhoso, porém não tive classificação e o certificado de conclusão da faculdade. Porém, eu queria ver meu desenvolvimento, o meu nível de interesse, uma vez que estudei em casa.
Neste meio tempo para o certificado de conclusão da faculdade ser finalizado, eu fiz de tudo que era possível, então eu publiquei um artigo e dois livros. Meu primeiro livro foi escrito com total intuito de me dar bem no concurso do Corpo de Saúde da Marinha para que eu pudesse ter peso curricular. Para isso, eu consegui publicar meu artigo na Biblioteca interna da Marinha, e isso é um avanço, é um peso para a prova. Em 2016, dei aula em um curso na Marinha (curso de Gasoterapia), já em 2017 dei três palestras na Escola de Saúde da Marinha. Para poder fazer tudo interligado, fiz tudo cronometrado dentro da Marinha.
Após sua saída da Marinha, quais planos foram realizados?
Eu quis me formar como enfermeira e passar no concurso do Corpo de Saúde da Marinha (na segunda tentativa não consegui me inscrever pela idade). Eu vinha contando com edital anterior e deixar de ser Praça e ser Oficial, mas eu tinha o plano B, caso não desse certo, que era me estruturar para minha saída.
Cada vez mais fui me tornando conhecida dentro e fora da instituição. Como eu fiz o bacharel e licenciatura e ainda ministrei aula e palestras como Terceiro-Sargento, comecei a me tornar visível na Escola de Saúde da Marinha. Então eu saí daí e fui transferida para Emergência e lá a Comandante me incentivou. Em 2018, eu já tinha finalizado minhas atividades como temporária e continuei desenvolvendo ações na área.
Como você define esta experiência para sua vida?
De forma maravilhosa, porque foi crucial para minha atual função, foi muito bom tudo o que passei na Marinha, não foi fácil, ninguém disse que seria fácil, realmente não foi.
O que eu aprendi realmente na Marinha foi o seguinte: quando você verdadeiramente quer algo, você faz por onde e consegue. Nesse período, eu consegui dar aula em um curso, me formar como enfermeira, concluir minha pós-graduação, construir minha casa e comprar um carro zero de uma excelente marca no mercado com direito a seguro. A estrutura financeira foi maravilhosa.
Publiquei um livro O Quinto Sinal Vital – a Dor e fiz outro justamente contando minha experiência profissional na Marinha sobre Gasoterapia, uma vez que quase não temos material didático no mercado. O primeiro consegui levar para a Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC), para que ele fosse indicado na revista deles, foi uma realização muito grande. Tudo isso foi estruturado para eu que pudesse sair da Marinha bem tranquila.
Quais aspectos na sua vida pessoal e profissional você sentiu mais evolução enquanto esteve na Marinha?
Quando eu fui trabalhar no Centro Cirúrgico (à noite), eu usava o tempo que tinha de descanso para estudar, então eu tive uma evolução muito grande. O meu primeiro livro foi escrito na madrugada, nestes intervalos. Em vez de descansar, usava o tempo desta forma. O poder do incentivo da Comandante foi muito grande para minha carreira, quando fui realocada para a Emergência do Marcílio Dias. Voltei para a vida civil muito forte, saí da Marinha bem tranquila.
Meu primeiro emprego foi como enfermeira de home care. Fazia primeiros socorros nos pacientes antes da chegada do SAMU. Os muitos apertos que passei nas noites na Emergência do Marcílio Dias me trouxeram muitos aprendizados, foi excelente minha evolução como profissional.
Qual mensagem você deixa para quem tem o sonho de ser aprovado neste processo seletivo?
Faça sim a inscrição, já saiba o que você quer, construa um cronograma do que você deseja. Saiba entrar na Marinha e, principalmente, permanecer os oito anos íntegros e sair muito bem, se prepare para sair. Você entra com uma visão que vai ser uma boa experiência se você souber aproveitar, porque a Marinha é um mundo. Se você souber aproveitar o que a Marinha tem para te oferecer, você vai sair dez vezes melhor do que quando entrou. Isso vai fazer você olhar para trás e ver que valeu muito a pena. Literalmente, ter feito parte do SMV modificou a minha vida e graças a isso venho mudar a vida de tantos outros, uma vez que hoje em dia eu sou professora.
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