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“Navio cego” da DPHDM recebe deficientes visuais da AFAC


Uma metáfora como agente catalisador de uma ação de cidadania, inclusão e resgate da autoestima. Eis uma breve definição da visitação guiada promovida pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), em 27 de julho de 2018, ao Submarino-Museu Riachuelo, no Espaço Cultural da Marinha, para pacientes da Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (AFAC) — instituição filantrópica, fundada em 1931, que atua na reabilitação de pessoas com deficiência visual e intelectual, com ou sem espectro autista.

A iniciativa para o passeio partiu do Suboficial-MO Carlos Renato Cardozo de Mello, cuja filha perdeu a visão há três anos por conta de uma meningoencefalite e, hoje, é assistida pela AFAC. Em visita à instituição, o militar percebeu a curiosidade dos pacientes ao dizer que serviu por duas vezes num “navio cego”: um submarino. Por meio de equipamentos e tanques especiais, ele é capaz de navegar submerso, “cego”: orientando sua singradura por sonares em meio à escuridão das águas; estando oculto aos olhos inimigos.

Deficiente visual atendido pela AFAC faz experiência tátil com modelo do Riachuelo para vislumbrar sua estrutura


Antes de entrar no Riachuelo, os deficientes visuais tiveram a oportunidade de tocar em um modelo do submarino, em escala 1:100, para conhecer, por meio do tato, sua forma e estruturas, como cabeços, hélices, escotilhas e periscópio.

Antes de entrar no Riachuelo, os deficientes visuais tiveram a oportunidade de tocar em um modelo do submarino, em escala 1:100, para conhecer, por meio do tato, sua forma e estruturas, como cabeços, hélices, escotilhas e periscópio.

Marinheiro no Tonelero (1991/92) e Cabo no Humaitá (1994/1995), ambos submarinos da classe “Oberon”, a mesma do Riachuelo, o Suboficial-MO Renato conduziu voluntariamente a visitação com o grupo, composta por 28 pessoas cegas ou com baixa visão, com idades entre 20 e 80 anos, mais os seus acompanhantes e profissionais da AFAC, explicando cada compartimento do Submarino-Museu, além de contar um pouco de sua história no serviço ativo.

O guia de turismo aposentado Paulo Henrique Leitão Pimentel, de 65 anos, — que, acometido por um glaucoma pós-cirúrgico, perdeu a visão no olho direito e possui apenas 5% da vista esquerda —, participou da visita guiada. “Conhecer os desafios, da alimentação ao espaço físico tão limitado, do tempo submerso à complexidade operacional, é algo que nos enche de orgulho pelo serviço prestado pela segurança nacional”, avaliou.

Emocionado, completou: “toda cautela, paciência e boa vontade do pessoal da Marinha fizeram esta experiência ser única; integrar deficientes visuais, como nós, aos espaços públicos culturais é primordial para resgatar nossa autoestima e mostrar que as limitações são físicas, e não sociais. Saímos mais evoluídos daqui sob todos os aspectos.”

Construído na Inglaterra, o Riachuelo (S22) é o sexto navio e o segundo submarino da Marinha do Brasil a ostentar esse nome, em alusão à Batalha Naval do Riachuelo. Incorporado à Armada Brasileira em 27 de janeiro de 1977, o submarino deu baixa do serviço ativo após duas décadas de operações, em 12 de novembro de 1997, contabilizando quase 182 mil milhas navegadas, 1.283,5 dias de mar e 17.699 horas e 41 minutos de imersão.

Paulo Pimentel, paciente da AFAC, manuseia periscópio