Reedição de barco a vela desperta a mentalidade marítima

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Reedição de barco a vela desperta a mentalidade marítima

Modelo de embarcação idealizado em 1989 será utilizado em escolas de iniciação marinheira
17/03/2023
Primeiro-Tenente (RM2-T) Luciana Santos de Almeida
Brasília, DF

A navegação a vela é uma das técnicas mais antigas e tradicionais do mundo e, ainda hoje, serve como instrumento de aprendizagem para iniciantes. Por esse motivo, o Instituto Rumo ao Mar (Rumar), apoiado pela Marinha do Brasil, está atualizando uma embarcação, do tipo escaler, de seis metros, que será utilizada como barco-escola. A reedição é realizada no Rio de Janeiro (RJ) e a previsão é de que fique pronta até abril. A proposta é manter todas as características e qualidades marinheiras do projeto original, idealizado em 1989, adicionando modernidades e melhorias nos aspectos de segurança, conforto e ergonomia, tais como o leme retrátil, que facilita o encalhe na praia. O objetivo desse projeto é fomentar e dinamizar a renovação da navegação a vela e contribuir para o fortalecimento da mentalidade marítima junto à sociedade.

“Esse novo tipo de escaler é importantíssimo para o incremento da mentalidade marítima, uma vez que as características intrínsecas, adicionadas às inovações, permitem, em uma única embarcação, o aprendizado da navegação a vela, a remo e a motor. Pelo lado econômico, mostra-se bastante interessante sua produtação, uma vez que não existem outras embarcações como essa no mercado”, explica o Almirante de Esquadra Marcelo Francisco Campos, enfatizando a importância de iniciativas como essa para a propagação da mentalidade marítima no País.

De acordo com o sócio-fundador do Rumar, o velejador Cristiano Pontes, os beneficiados com o projeto serão todos aqueles que pretendem se familiarizar com os "Caminhos do Mar", por ser eminentemente para iniciação nas práticas marinheiras. “Nesse sentido, ele vai beneficiar tanto as escolas da Marinha de Guerra, quanto da Marinha Mercante, os clubes náuticos, as marinas, escolas de vela, os Escoteiros do Mar, as colônias de pesca e os projetos sociais que precisam desse tipo de embarcação. O desenvolvimento do barco está sendo patrocinado pela Associação Barreiros de Ilhabela, que atende cerca de 500 crianças. Esse será o seu destino”, esclareceu. 

No projeto, além da mudança do leme retrátil, está prevista que a popa (parte traseira da embarcação) seja vazada, para facilitar o escoamento de água do cockpit (local em que ficam os alunos e professores) e para a redução da flutuação lateral, a fim de agilizar o adriçamento (para desvirar o barco) após uma virada. “Melhorar o que já é bom, é muito difícil. Basicamente, não estamos alterando em nada o ‘Plano de Linhas’, as ‘obras vivas’ (parte que fica em contato com a água) do barco. As melhorias estão acontecendo em alguns detalhes, como facilitar a desvirada do barco, que faz parte do curso de iniciação, criando espaço adequado para a guarda da âncora, remos, salva vidas, mochilas e pertences dos tripulantes, além de leme rebatível para facilitar a aproximação na praia, mais ergonomia, conforto e segurança”, afirmou Cristiano.


Casco doado por empresário para a confecção do barco-escola
 

O velejador explica que o modelo em reedição é um barco completo para a formação dos Escoteiros do Mar e para a iniciação da atividade marinheira em geral. “Ensina a velejar, remar na voga com quatro remos e a navegar motorizado. No Escotismo, ele congrega uma ´Patrulha´ 6+1=7, ou seja, seis alunos e um instrutor. É ideal para iniciação em geral por ser um barco relativamente leve para seu tamanho, sensível com relação ao equilíbrio, fácil de colocar e tirar da água. Permite desenvolver o ´espírito de equipe’ e a prática da solidariedade”, disse Cristiano.

Mentalidade marítima
O sócio-fundador do Rumar acredita que se o projeto do Barco-Escola for adotado sistematicamente em escala nacional, contribuirá decisivamente para o fortalecimento da mentalidade marítima dos brasileiros.

“O Almirante Paulo Moreira dizia que ‘os brasileiros estão de costas para o mar’. Iremos testemunhar uma grande conscientização nos brasileiros, da importância do mar para a vida na Terra, estaremos caminhando para a ocupação consciente e responsável da Amazônia Azul”, refletiu Cristiano. 

Para testar as melhorias, o Rumar ganhou do velejador Ricardo Carvalho um casco tirado da forma original e, nele, estão sendo feitas as alterações, no pátio de reparos do hangar 1 do Iate Clube do Rio de Janeiro. A obra conta com a supervisão do técnico em fibra de vidro Günther Müller, que construiu os barcos anteriores dessa mesma forma, e com a assessoria técnica do Engenheiro Naval Glauter Moreira Barbosa da Silva.

Origem do projeto do Barco-Escola
O Barco-Escola, um escaler de seis metros, modelo "Sea Scout", foi projetado pelo Engenheiro Naval Maurillo Vinhas de Queiroz, em 1989. O primeiro projeto de Maurillo foi o "Escaler Escola Naval", ainda utilizado nos centros de instrução da Marinha, e seu último foi o escaler de seis metros, que reúne toda a sua experiência profissional. Ele foi idealizado e construído por meio do Projeto Rumo ao Mar, que tinha como proposta dotar cada grupo de Escoteiros do Mar no Brasil com, pelo menos, uma embarcação adequada para iniciação e prática marinheira.


Primeiro barco construído da série “Sea Scout”, em 1990 – Imagem: Instituto Rumar
 

À época, o projeto foi financiado pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, pelo Estado-Maior das Forças Armadas e pela empresa LUBRAX. Em 1992, o projeto foi interrompido e a fábrica encarregada pela produção dos barcos fechou. Segundo dados do Rumar, durante este curto intervalo de tempo, seis barcos foram construídos. Passados todos esses anos, os seis barcos ainda navegam. Três deles estão no Rio de Janeiro (RJ): o “Flor de Lis”, situado no Clube Boqueirão, próximo à Marina da Glória, o qual pertence ao Grupo 116 dos Escoteiros do Mar, e mais dois no Iate Clube de Ramos. Há um quarto em Angra dos Reis (RJ), outro em Brasília (DF), o “Pato do Cerrado”, e o último em Belém (PA), o “Comte Sodré”, que usa como base de apoio o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar.

 

Agência Marinha de Notícias