Expedição leva pesquisadores à área remota da Amazônia Azul
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Expedição leva pesquisadores à área remota da Amazônia Azul
Pesquisadora e militar armazenam ar atmosférico da região para futura análise - 2SG (MR) Cassiano/ Marinha do Brasil
A diversidade de instituições, de diferentes regiões do País, comprova a importância e interesse por essa longínqua porção do território nacional. Entre as atividades desenvolvidas pelo navio e pelos pesquisadores nessa missão destacam-se: o estudo de poluentes orgânicos persistentes; o monitoramento da atividade sísmica e de emissões bioacústicas; o imageamento do assoalho oceânico (técnica que gera imagens mapeando a composição molecular de um determinado material); a caracterização de fungos presentes em sedimentos marinhos profundos do oceano Atlântico, com coleta de amostras a mais de 4 mil metros de profundidade; a avaliação dos fatores ecológicos e da pressão antrópicas atuando sobre as aves marinhas; o monitoramento da biodiversidade marinha em ilhas oceânicas brasileiras; e o monitoramento da distribuição e abundância de cetáceos (baleias e golfinhos) entre a costa do Nordeste do País e o Arquipélago São Pedro e São Paulo (ASPSP).
Seleção dos projetos
O Assistente Técnico da Coordenação-Geral de Oceano, Antártica e Geociências (CGOA) do MCTI Iran Cardoso Júnior explica que, no caso de expedições coordenadas pelo ministério, é realizada pelo órgão uma consulta aos pesquisadores que têm projetos já aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para viabilizar a demanda de pesquisas embarcadas. O processo é feito em conjunto com a Marinha, que analisará a questão logística.
“Começamos a estudar com o pessoal do Grupamento de Navios Hidroceanográficos a exequibilidade do projeto, se é factível aquelas áreas pretendidas, se o navio tem equipamentos em condições de atender determinadas demandas”, destaca Cardoso.
Com o intuito de dar mais transparência ao processo, em agosto deste ano o MCTI lançou consulta pública para identificar as demandas da comunidade científica que deseja utilizar os navios de pesquisa. Os interessados têm 30 dias, a contar da data de publicação do edital, para apresentar projetos que necessitem do apoio dos navios.
Para o Comandante do “Vital de Oliveira”, o Capitão de Fragata Daniel Peixoto de Carvalho, “a operação de um meio militar com modernos equipamentos de pesquisa à disposição da comunidade científica produz uma sinergia fundamental para a exploração das riquezas naturais, sendo um excelente vetor na direção da prosperidade e soberania brasileira”.
O professor Arthur Ayres é um dos pesquisadores que esteve a bordo do navio “Vital de Oliveira” com destino ao arquipélago. Ele conduz a pesquisa “Caracterização e Biotecnologia de fungos presentes em sedimentos marinhos profundos no oceano Atlântico ao longo da costa brasileira”, coordenado pela UFMG com parceria da UFF.
Segundo o especialista, as pesquisas nesta área ajudam a entender de forma antecipada o que está acontecendo com a saúde do oceano e o que está impactando a fauna e a flora marinha. Ele explica que, além disso, é possível também realizar estudos que podem contribuir para o desenvolvimento da gestão dos recursos naturais, para a exploração biotecnológica (como a produção de fármacos), para o estudo geológico e sísmico (para a pesquisa de recursos minerais) e para a preservação de espécies com risco de extinção.
De acordo com a coordenadora do projeto “Sentinelas da Amazônia Azul”, professora da UFRN Renata de Sousa-Lima, que realiza pesquisas bioacústicas sobre cetáceos na costa brasileira, “as oportunidades de realizar pesquisas na região são escassas, pois é uma localização de difícil acesso e, portanto, com poucas informações conhecidas. O fato de ser uma área pouco explorada torna a participação na expedição ainda mais especial”. Já a vice-coordenadora do projeto, Manuela Bassoi, que estuda a distribuição desses animais entre a costa do Rio Grande do Norte e o ASPSP, relata que cada oportunidade que se tem de explorar essa região é única. “A parceria com a Marinha tem nos ajudado muito neste sentido”, conclui.
O arquipélago está em um ponto crítico para a navegação, pois as ilhas não são de fácil detecção a olho nu, principalmente em condições adversas de luz e de tempo, o que já provocou alguns naufrágios ao longo da história. A origem do nome das ilhas é justamente uma referência a um resgate lá realizado de marinheiros que haviam caído da embarcação portuguesa São Pedro e foram socorridos pela caravela lusitana São Paulo em 1511.
Posição estratégica
O ASPSP é o ponto do Brasil mais próximo da África, a 1.820 quilômetros de Guiné Bissau. As ilhas também estão localizadas no hemisfério norte, próximas à linha do Equador, uma posição geográfica estratégica entre os hemisférios norte e sul e os continentes africano e sul-americano. Sua importância também se verifica no tocante ao aspecto econômico, pois pertence à rota de espécies migratórias de aves e de peixes de alto valor comercial, como o atum, por exemplo.
Além desses aspectos, a região também tem uma relevância para o Brasil no cenário geopolítico, uma vez que, com a ocupação permanente do arquipélago por meio da instalação de uma estação de pesquisa científica, o país pôde agregar à sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE) uma área de aproximadamente 450 mil km², equivalente ao tamanho dos estados do Paraná e São Paulo.
Para saber mais sobre o arquipélago ou sobre as pesquisas lá realizadas acesse o site da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM).
Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira”
O “Vital de Oliveira” entrou em operação em 2015, fruto de um Acordo de Cooperação assinado entre a MB, o MCTI, a PETROBRAS, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) e a VALE, para ampliar a infraestrutura para a pesquisa científica marinha.
O navio tem a missão de realizar levantamentos hidroceanográficos, coleta de dados ambientais e de apoiar pesquisas científicas em áreas marítimas de interesse, além de executar tarefas afetas aos auxílios à navegação, a fim de contribuir para o cumprimento das atividades relacionadas à Diretoria de Hidrografia e Navegação.
O “Vital de Oliveira” é considerado um dos mais modernos e completos navios de pesquisa do Hemisfério Sul. Ele tem a capacidade de atuar em diversas áreas da hidrografia (geofísica, oceanografia, acústica submarina e meteorologia) e, ainda, de apoiar uma enorme gama de projetos científicos de instituições de pesquisa e de universidades que possuem interesse nos recursos vivos e não vivos, água ou leito marinho da Amazônia Azul.
Atualmente, um dos empregos de maior destaque do navio é o imageamento do relevo marinho na Elevação do Rio Grande, área com a extensão estimada em cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados e que está sendo pleiteada junto à Comissão de Limite da Plataforma Continental da Organização das Nações Unidas.
Para o Primeiro-Sargento (Hidrógrafo) Eric de Melo Silva, que já serve no navio há sete anos, “é motivo de muito orgulho contribuir para a proteção da nossa Amazônia Azul, pois participamos ativamente do desenvolvimento de pesquisas científicas que nos ajudarão a preservar e a utilizar de forma sustentável esse enorme patrimônio nacional”.
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