Base de treinamento da Marinha abriga história da imigração no Brasil

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Base de treinamento da Marinha abriga história da imigração no Brasil

Principal hospedaria oficial de imigrantes nos séculos XIX e XX funciona como museu na cidade de São Gonçalo (RJ)
18/05/2023
Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Mendonça Silva
São Gonçalo, RJ

A hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores, que hoje abriga o Museu da Imigração da Ilha das Flores, foi a principal porta de entrada de imigrantes no Brasil. Inaugurada em 1883, pelo Governo Imperial, por lá passaram mais de um milhão de portugueses, italianos, espanhóis, alemães, austríacos, russos, poloneses, árabes e judeus, entre tantos grupos nacionais e étnicos, além de migrantes brasileiros. Atualmente o local é mantido por meio de um convênio entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Marinha do Brasil que, em 2012, através do Comando da Tropa de Reforço, cedeu uma área para funcionamento do espaço museológico. Também conhecido como Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, ingressou, em 2015, no circuito mundial de museus relacionados ao tema da imigração. 

“O Museu da Imigração da Ilha das Flores é um dos principais aparelhos culturais do município de São Gonçalo, do estado do Rio de Janeiro e, para além disso, é de grande importância na formação multicultural da sociedade brasileira. E a Marinha do Brasil tem o honroso papel de ser a guardiã da história da imigração nesse patrimônio histórico e cultural do país”, disse o responsável pelo museu, Primeiro-Tenente Luiz Felipe de Souza Sampaio da Silva.


Crianças e adolescentes de escolas públicas em visita ao museu - Crédito: SG Flavia/Marinha do Brasil
 

Os visitantes contam com um roteiro ao ar livre, o “Circuito a Céu Aberto”, em que percorrem as instalações da antiga hospedaria, acompanhados tanto por militares da Marinha graduados em história, quanto por alunos de história da UERJ, e o espaço de exposições “Casa do Intérprete”, que apresenta uma exposição interativa permanente, com vídeos, imagens e outros documentos sobre as experiências migratórias no local e a história em ordem cronológica das fases pelas quais passou a Ilha das Flores. A entrada é gratuita e ocorre de terça a domingo, das 9h às 17h, por meio de agendamento.  

“Minha primeira vez aqui foi em 2018. Estou aqui novamente, pois fico encantada com as histórias sobre as nossas origens. Além de descobrir mais da formação do nosso povo, eu enxerguei o que quero fazer da vida: ingressar na Marinha. A maneira como somos tratados aqui e como eles cuidam desse espaço me deixou muito interessada em seguir a carreira militar”, disse a estudante Monique Siqueira Fontes.  

Conhecendo mais a fundo a história da imigração 
Nas últimas décadas do século XIX, o fluxo migratório internacional intensificou-se, atingindo o seu auge nas primeiras décadas do século XX. Estima-se que, durante o período de 1880 a 1915, cerca de 31 milhões de europeus se deslocaram pelo continente, a fim de alcançar um dos portos que permitissem o embarque em um vapor rumo às Américas. Muitos foram os motivos que geraram os deslocamentos populacionais, como o desenvolvimento do capitalismo, o acentuado aumento da população rural e a forte depressão agrícola.  

Do outro lado do Atlântico, o governo brasileiro procurou atrair uma parcela dessa população. Em primeiro lugar, para promover a colonização dos territórios que ainda não haviam sido povoados, em segundo lugar, para viabilizar o trabalho nas grandes fazendas de café, pois, com a expansão da economia cafeeira, houve uma maior necessidade de mão de obra. 

O século XIX foi marcado por duas formas de ingresso da mão de obra imigrante no Brasil. Um significativo grupo participou da imigração “dirigida”, ou seja, foram arregimentados na Europa com destino às propriedades agroexportadoras. Muitos tinham suas passagens pagas e contratos pré-fixados com esses proprietários. Outra forma era a imigração espontânea estimulada pela administração imperial, pois a esses se destinavam terras públicas que serviriam para colonização. 

O imigrante era considerado elemento primordial no processo de transição do trabalho escravo para o livre. O importante era que não faltassem braços para a grande lavoura, sustentáculo da política econômica do período.

Como foi a criação e o funcionamento da hospedaria 
Em 1883, a Inspetoria Geral de Terras e Colonização adquiriu a Ilha das Flores, pertencente ao Senador José Ignácio Silveira da Motta. Com a construção de um grande galpão, capaz de abrigar comodamente 1.000 indivíduos de uma só vez, a Ilha das Flores se converteu em local de registro, de controle médico e sanitário e de encaminhamento dos imigrantes para o lugar de destino.

Desse modo, em termos de logística, a criação da Hospedaria da Ilha das Flores foi a política imigratória mais importante do governo imperial, pois, a partir da sua instauração, o Estado passou a regular os serviços de recepção e hospedagem dos imigrantes.

Em 01 de março de 1883, o ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Afonso Augusto Moreira Penna, ordenou que, depois de desembarcar no Porto do Rio de Janeiro, todos os passageiros vindos de portos estrangeiros em 3ª classe deveriam ser imediatamente transportados, com as suas respectivas bagagens, até a Ilha das Flores, onde seriam acolhidos gratuitamente até o máximo de oito dias.

Após o desembarque na Ilha, os imigrantes eram imediatamente alojados nos dormitórios. Posteriormente, todos eram encaminhados para o Escritório da Diretoria, onde o escrivão realizava o registro dos imigrantes em livros, nos quais se anotavam a procedência, o nome do navio, a data de entrada, o número de ordem, o nome, a idade, o estado civil, a nacionalidade e a profissão de cada um.

Após o registro, os imigrantes passavam pelo consultório médico, a fim de verificar o seu estado de saúde, prevenindo, assim, a entrada de doenças infectocontagiosas. Durante um grande período, os alojamentos da hospedaria foram divididos de acordo com o gênero e o estado civil dos imigrantes. Desse modo, havia dormitórios para os jovens solteiros, os homens casados, as moças solteiras e as mulheres casadas com filhos pequenos.

A Ilha das Flores apresentava uma estrutura bem moderna para a época. Além de sistema de captação da água da chuva, havia tanques biológicos responsáveis pelo tratamento de dejetos, a fim de que estes não poluíssem a Baía da Guanabara.

No ano de 1907, diversos edifícios foram demolidos, pois sua estrutura de madeira estava em precário estado de conservação. Para substituí-los, foram construídos, na ala norte, novos pavilhões, nas melhores condições de higiene e conforto.

Os novos pavilhões possuíam 124 metros de comprimento por 12 metros de largura, circundados por varandas laterais. Internamente eram divididos em grandes quartos, mobiliados com beliches de ferro. Atualmente, esses edifícios encontram-se preservados e fazem parte do Circuito a Céu Aberto.

 

Serviço - Museu da Imigração da Ilha das Flores 

Endereço: Complexo Naval da Ilha das Flores – Tropa de Reforço

Avenida Paiva, s/n – Neves – São Gonçalo – RJ

Saída 318 da Rodovia Niterói-Manilha

Horário de funcionamento: Terça a Domingo, das 9h às 17h

Telefones: (21) 3707-9504 / (21) 3707-9598

Site: www.miif.org.br

 

Galeria de fotos: 
  • Crianças visitam a parte interativa do museu
  • Visitantes conhecem as histórias de diversas famílias que passaram pela hospedaria
  • Capela que era utilizada pelos imigrantes continua funcionando no local
  • Porto de desembarque na Ilha das Flores
  • Desembarque de imigrantes na Ilha das Flores
  • Chegada e registro de imigrantes na hospedaria
  • Guardas recebiam os imigrantes no pátio da hospedaria
  • Imigrantes no refeitório da hospedaria
  • Moradores da hospedaria posam para registro durante momento de lazer
  • Partida de futebol entre os moradores da hospedaria
  • Prédio onde funcionava a enfermaria da hospedaria
Agência Marinha de Notícias